Sugestão: Tanaka
Quando lá, comer: pizza, sei lá
É algo espantoso termos ficado tantos anos sem visitar o Xis Bom, um grande crássico da boemia curitibana. Tem gente que pode não reconhecer o nome, mas se você conta que é aquele logo antes da Rua 24 Horas na Visconde de Nácar ou 24 de Maio, ali onde as ruas se confundem, certamente vão se lembrar. “Mas ali não é um hotel?”, na realidade é que vão falar, aí você diz, antes do hotel, e eles vão falar “ah, sim! Mas é esse o nome?” e é esse o nome. A última referência possível é o Amarelinho na frente, onde todas as noites de ressaca feia iam parar às 4h da manhã, mas essa referência nem serve mais porque o Amarelinho fechou pós pandemia.
Uma das visões mais clássicas da cidade
A característica primária do boteco é ser 24 horas, plena madrugada tem uns caboco largado na sarjeta consumindo os excelentes produtos do estabelecimento. Arquitetura industrial típica dos anos 80, o teto do boteco é cortado transversalmente por umas... estruturas arredondadas metálicas com buracos redondos, mais uma parede de tijolinho, coisa de centro antigo de cidade grande. Eu achava que as mesas eram parafusadas no chão pra evitar que fossem roubadas, assim como é no Luzitano, mas não! Permite flexibilidade para diferentes grupos de clientes, e ainda bem, porque as mesas de pedra são pequenas pra burro, tem que juntar várias pra ter uma base decente de consumo. Cadeiras metálicas combinam com o ambiente, certamente são assim pra aguentar a destruição a que são submetidas 24 horas, algumas apresentam devidos sinais de desgaste. Fora isso, um banheiro sujão, visitado por alguns transeuntes e muitos clientes, e as esperadas caixas de cerveja em pilhas pelos cantos. Pode haver alguma preocupação em relação a saúde devido a limpeza, e não posso dizer que não é justificável pela aparência – o que posso dizer é que comemos bastante e não passamos mal. O garção não atende assim muito bem, passamos grandes períodos desatendidos, mas OK, não dá pra criar expectativa de um cidadão trabalhando no turno da madrugada num bar no centro da cidade. Não sofremos por demora da comida, a cozinha deve ser considerável contando que durante o dia fazem almoço pros trabalhadores da região.
De um lado
Do outro lado. Sim, é o mesmo lugar
Comida né. Então. A expectativa era baixa pela imagem do estabelecimento, por mais que o Cabelo tivesse informado que almoçava as marmita do lugar quando morava ali perto e era OK. E suponho que esta aproximação de baixas expectativas é correta, porque ao encarar a vida como ela é, não achamos ruim não. Consumimos porções: aipim, frango a passarinho, batata com alcatra (que vem pouca alcatra, é de se esperar), tilápia, nada especial em relação ao sabor, mas tava bom. Pedimos pizza calabresa a paulista e coração com champignon, tava bem bom, aquela sensação de culpa enquanto come um troço gordurento, sabe? Tomaram a coragem de pedir pizza de chocolate também, vê se pode – olhar torto é normal, mas ninguém deixa de comer quando tá na frente. A variedade de comida é bem interessante, principalmente por causa das pizzas. De biritas, cervejas convencionais, claro, e outro golpe na expectativa na página de drinks e coquetéis do cardápio. A ressaca era aguardada com tapete vermelho, mas tive a ótima ideia de perguntar qual era a birita utilizada, e tinha a opção de Velho Barreiro e 51, Velho Barreiro all the way pelamordedeus. Aí assim, pedimos tudo, claro, que oportunidade ótima de se estragar que não teremos na velhice. E... OK, as batidas eram meia boca sim, mas essa versão de “Amarula” com guaraná é bem boa, recomendamos. Claro, não deixa de estragar o caboclo. No final, uma conta simpática, condizente com as condições a que fomos submetidos.
Aqueles que tiveram melhor imunidade após o evento
Tanaka foi o primeiro a chegar, aí desci do busão, que maravilha o tubo da Osório bem na frente. Ao juntar três ou mais confrades, nos sentimos mais confiantes e integrados ao ambiente de baixo calão. Tavam rolando clips na TV de um funk carioca OK, o nível poderia ser muito mais baixo – mas aí o nível desceu efetivamente com a entrada daqueles sertanejo mais ruim que tem, e eu descobri que acho pior sertanejo que funk, uma noite de aprendizados. Fiquei implorando para o garção pra achar um futebol na TV, eu nem gosto de futebol, eu só queria sair daquela situação – mas o XV de Piracicaba contra Piraporinha só começava às 21h30 depois da novela que NÃO estava passando no bar, teria sido melhor. Depois eu não lembro mais o que rolou porque fiquei belbo. Confrades torciam o nariz quando encaravam a opção da pizza, mas jamais reclamaram quando ela veio. Rolava aquelas conversa de fofoca, imaginando a vida pessoal dos frequentadores das outras mesas que eram peculiares. Pedro San e Cabeça chegaram, comemos porcaria, e fomos embora quando a madruga estava começando a esfriar – ou esquentar para outros.